“Até breve … Dr. Expedito”
“Até breve …
…março de 1996 … nosso início.
Idos de 1996: “Ele tá de férias”; “É bravo”; “Faz e não pergunta” … cinco da manhã, todos os dias, após um café aguado com pão seco no refeitório onde hoje é parte do Pronto Socorro infantil, eram as recomendações que recebíamos, das mais simples, dos nossos graduados residentes de último ano, antes dele voltar das férias. A visita ao meio-dia. Todas as quartas. Eram daquelas que só faltava passar o registro de internação do paciente, de tão detalhadas, de tão minuciosas que eram. As temidas “rondas” à beira do leito, que eram muito tradicionais à época formavam nossa disciplina. Eram muitos os detalhes, mas sempre havia alguma colocação que não saberíamos responder. Precisava haver, pois fazia parte. Os doentes, aliás, não sabiam se sentiam mais comiseração nossa ou deles próprios, ao final de cada passagem. Era necessário. Fazia parte do “rito de passagem” do R1 em ortopedia. O jovem médico precisava de disciplina, controle de seu orgulho e de sua vaidade, após sua recém saída da universidade. Foram vários os preceptores que nos ensinaram, que marcaram diversas fases no Mandaqui, mas a simbologia de todas aquelas expressões eram encarnadas no Dr Expedito Bauer, o “chefe” mais longevo.
Para a liderança de um grande serviço de especialidades, que atende uma imensa região da zona norte, da maior cidade da américa latina, não bastaria ser forte, precisava parecer forte, mesmo que debaixo de todas as “armaduras de proteção” que a vida constrói, em todos nós ao envelhecer, numa espécie de autopreservação natural que adquirimos, o Dr Bauer transitava serelepe entre todas as demais especialidades da casa, angariando simpatia e respeito. Dos pares ortopedistas detinha a liderança. Nos congressos era sempre cercado por seus ex-residentes … adorava contar histórias e bravatas. Virou entre todos “uma lenda viva” nas histórias contadas, repassadas e sempre acrescidas de detalhes que ganhavam tons burlescos de humor, simpatia e saudades com o passar dos anos. Exemplos na vida todos temos. Aquilo que fica é o que importa. E como ficaram bons sentimentos.
Junho de 2020 … a partida
… em 19 de junho de 2020 o Hospital do Mandaqui finalizou o dia menor, mais triste. Foi um dia estranho, principalmente porque acompanhávamos em tempo quase real o seu sofrimento. Partia naquele dia o nosso eterno chefe, que marcou gerações de residentes como a minha própria geração. Da mesma forma marcou colegas e muitos outros profissionais do conjunto hospitalar do Mandaqui. A COVID19, que trazia batalhas pela vida dentro e fora de vários lares no Brasil, chegou fatalmente ao nosso ex-chefe da Ortopedia nesse dia, vitimando parte importante de nosso passado de equipe e de histórias pessoais, mas eternizando um sentimento que só encontra expressão na língua portuguesa, a saudade.
Como atual coordenador da ortopedia, em nome do serviço de Ortopedia e Traumatologia do Conjunto Hospitalar do Mandaqui, presto minhas homenagens à família e amigos mais próximos do Dr Expedito Bauer com este simples texto de agradecimento pela boa luta, pelo bom trabalho e legados deixados entre amigos, colegas e ex-residentes.
Um até “breve” colega.
Missão cumprida.
“Boa viagem” e fique com Deus.
Carlos Augusto Silva de Andrade
Coordenador Serviço de Ortopedia Mandaqui
Ex-residente em Ortopedia e Traumatologia do Dr Expedito Bauer do ano de 1996 a 1999